domingo, 27 de maio de 2012

Carta de Hartley é leiloada online

 Wallace Hartley

Wallace Hartley, líder da banda que tocou no Titanic

 

Uma carta escrita pelo líder da banda que tocava no Titanic e enviada a seus pais na Inglaterra cinco dias antes do navio bater em um iceberg e afundar - há um século - foi vendida por 154.974 dólares em um leilão online na quinta-feira.

Um grupo de investimento estadunidense (cujo nome não foi divulgado) comprou a carta escrita pelo britânico Wallace Hartley, na época com 33 anos, que liderava a banda formada por oito músicos que tocavam ragtime e outros estilos para acalmar os passageiros enquanto o navio deslizava lentamente pelas ondas do Atlântico Norte.

“Ela dá o microcosmo da tragédia toda", disse da carta o executivo Bobby Livingston, da RR Auction, com sede em New Hampshire, que conduziu a venda. "Havia a esperança de que ele visse seus pais de novo", acrescentou, em uma entrevista.

Hartley enviou a carta no dia 11 de abril de 1912 durante a parada do navio em Queenstown, na Irlanda, de acordo com Livingston. O Titanic afundou nas primeiras horas do dia 15 de abril, na viagem de estreia a partir da Inglaterra, deixando 1.517 mortos.

"Temos uma boa banda e os garotos parecem muito legais", escreveu Harley na carta, prometendo visitar os pais no domingo seguinte à sua volta. "Este é um ótimo navio e uma porção de dinheiro deve ter sido colocada nele", acrescentava Hartley.

 

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sábado, 12 de maio de 2012

Uma entrevista especial com Rodrigo Piller

No ano de 2011 o Brasil recebeu a exposição intinerante sobre o Titanic, que mostrava artefatos recuperados do navio, além de ambientes do navio recriados. Esta exposição foi organizada pela empresa RMS Titanic Inc., a única empresa que tem a permissão de explorar, recuperar e expôr objetos retirados dos destroços do Titanic.
Com certeza esta vinda da exposição foi uma grande felicidade para os brasileiros, mas ela só visitou as cidades de Brasília, Porto Alegre e Curitiba. Titânicos brasileiros de outros lugares não puderam visitar a exposição, mas nós contamos com a ajuda de pessoa bondosas para descrever como foi a exposição. E hoje o RMS Lucas Rubio traz uma pessoa muito conhecida e muito especial no meio histórico “titânico-brasileiro”: Rodrigo Piller. Dono do blog “Titanic em Foco”, Rodrigo é um grande admirador do Titanic e de sua história e é conhecido por ter uma incrível habilidade artística, quando se refere ao assunto Titanic.
Esta entrevista estava agendada pra ser divulgada para todos há mais tempo, mas uma série de contra-tempos acabou atrasando ela um pouco. Mas não importa, agora, sem mais delongas, a entrevista de Rodrigo Piller para o RMS Lucas Rubio sobre a Exposição Titanic no Brasil!
 
RMS Lucas RubioRodrigo, primeiramente quero agradecer por aceitar esta entrevista conosco e gostaria de dizer que será uma grande honra ouvir você. Bom, então vamos lá. Muitos conhecem você e seu trabalho em relação a história do RMS Titanic e da grande Era de Ouro dos navios de luxo. Conte-nos um pouco como foi que começou esta sua paixão e qual foram suas fontes de inspiração.
Rodrigo Piller – Oi Lucas, eu é que agradeço a atenção ao meu “trabalho”, é um prazer conceder meu depoimento. Sou apenas mais um dos muitos curiosos admiradores desta história, e é sempre bom compartilhar com os amigos o pouco do que tenho vivido com relação ao meu interesse pela história deste navio de fama tão popular, o Titanic.
Minha admiração começou com a grande curiosidade despertada com o lançamento do filme “Titanic” em 1998. Até então creio que nunca sequer havia ouvido o nome ou a história do Titanic.
O início de meu envolvimento foi de um espectador capturado pela máquina da mídia relacionada ao filme Titanic, no entanto a partir do momento em que pude finalmente assistir ao filme, em 1998 se não me engano, meu deslumbramento inicial converteu-se instantaneamente em uma curiosidade histórica imensa, ou seja, eu não me prendi apenas ao filme.
Em relação ao filme o que me intrigou, em primeiro lugar, foi a monumental arte de recriar o navio, os espetaculares efeitos especiais, a história real na qual foi inspirado e, em último plano, a história ficcional vivida pelos protagonistas. Nada escapou à minha curiosidade, no entanto eu jamais segui a linha de fã de atores, pois minha admiração era, na verdade, um misto de curiosidade artística (sobre como o filme foi feito) e curiosidade histórica (sobre o verdadeiro Titanic).
Minha curiosidade nunca morreu, assim como também nunca cessou a minha procura pela história e meus trabalhos manuais relacionados ao Titanic; e tudo recebeu um acréscimo após o ano de 2002, quando realizei uma feira de ciências sobre a história verídica do Titanic, onde apresentei as maquetes que construí.
Depois, com o início de meu contato com a Internet, encontrei muitas pessoas que compartilhavam comigo esta mesma curiosidade, além de expandir imensamente minha pesquisa ONLINE e, por fim, criar em 2009 meu próprio blog, o TITANIC EM FOCO, onde divulgo ao meu modo as pesquisas relacionadas ao Titanic que considero mais proveitosas e/ou interessantes. Hoje posso seguramente dizer que adquiri um grande respeito histórico e que este meu interesse pelo Titanic me trouxe muita cultura, desenvolveu minha habilidade para as artes, minha capacidade de escrita, além de me fazer conhecer dezenas de colegas que, assim como eu, têm grande curiosidade por esta história tão viva que é a do Titanic.
 
RMS Lucas Rubio - Ótimo. E agora, na sua opinião por que e como a história do Titanic continua influenciando e fascinando pessoas até hoje, 100 anos depois da tragédia e quais lições você acha que o Titanic deixou pra humanidade?
Rodrigo Piller – Olha, passei por anos tentando entender quais são os motivos de tanta influência, mas foi só nos últimos meses que finalmente compreendi.
Se você analisar a história do Titanic notará que tudo é exageradamente marcante:
1. O Titanic era o maior navio do mundo em 1912 e o mais luxuoso.
2. Era a sua 1ª viagem.
3. O fim do navio foi na 1ª viagem.
4. O modo pelo qual o acidente ocorreu é, nada menos que surpreendente.
5. Morreram 1.500 pessoas, um número enorme para um acidente marítimo, um dos acidentes mais mortais da história da navegação.
6. O acidente poderia ter sido evitado, mas a conjunção de fatores que levaram à tragédia foi tão espetacular que até hoje intriga.
7. Havia botes salva-vidas apenas para metade das pessoas a bordo (no entanto o Titanic estava plenamente dentro da lei).
8. As conseqüências do desastre foram de extrema importância para a reformulação das leis navais e de segurança no mar.
9. A enorme diferença entre passageiros sobreviventes da 1ª classe e de passageiros sobreviventes da 3ª classe é um gritante clamor de discriminação no que se refere à preferência aos ricos na hora da evacuação.
10. Os atos de heroísmo cometidos por alguns, como a banda ter tocado até o fim, a morte do engenheiro Thomas Andrews e do Capitão Smith, são fatos dignos de uma tragédia grega.
11. O navio passou 73 anos perdido das vistas da humanidade e foi redescoberto em 1985.
12. Os estudos sobre a tragédia cresceram admiravelmente desde 1985, revelando detalhes desconhecidos até então.
13. O filme “Titanic” (1997) ressuscitou o verdadeiro Titanic para o público moderno, ainda que a custo de muita espetacularização errônea, responsável por criar lendas que são difíceis de apagar.
Junte tudo isto e o resultado toma ares de espetáculo. Quem é que não vai ficar no mínimo intrigado? Qualquer pessoa no mundo ao ouvir uma história com estes aspectos fica muito curiosa. Se a trajetória do Titanic fosse apenas um conto de ficção escrito por um autor qualquer, ela seria inacreditável; no entanto esta história é nua, crua e real.
Eu tenho certeza de que nenhum destes fatos isolados seria capaz de fazer com que a história permanecesse por um século na memória social coletiva, mas a junção de todos eles faz com que o Titanic siga indeterminadamente presente e atual como conto popular.
E é alimentada por este interesse que a indústria do lucro aumenta ainda mais a imortalidade desta história, trazendo novas pesquisas, novos filmes, novos livros, novos sites (e blogs, como o meu, o seu...). Claro que na grande maioria das vezes o preço a pagar pelo “lucro em cima do interesse” é o contínuo obscurecimento da história verídica em virtude de interesses financeiros ou pessoais. O Titanic hoje gera muito lucro. E isto faz com que sua história fique escondida atrás de lendas, histórias ficcionais e de um fanatismo que certamente não leva a nada. No entanto, apesar do grandioso obscurecimento histórico, o Titanic segue mais vivo do que nunca.
Não desconsidero o movimento de mídia moderna em nome do Titanic, mas tenho firme consciência de que é preciso, e indispensável, ter plena consciência histórica sobre o caso para que se possa então tirar proveito sadio neste movimento de interesse. O legado deixado pelo Titanic é a afirmação de que é preciso ter muita cautela e respeito no tratamento e gerenciamento das grandiosas obras humanas em virtude de entender que tudo é falível. Consciência de falibilidade, respeito às leis naturais e cautela nunca são demais.
E o legado do Titanic estende-se enormemente quanto mais nos aprofundamos na sua história. Este legado vai desde o conhecimento da dignidade humana encontrada nos atos de bravura cometidos naquela madrugada, até a compreensão do grande eixo cultural deixado pelo Titanic: história, arte, matemática, ciência, química, psicologia, relações humanas, religião, sociologia, entre tantos outros aspectos. Mas isto só se revela quando de fato é dada a correta atenção ao caso.
 
RMS Lucas RubioAgora vamos para a razão da nossa entrevista: a Exposição do Titanic no Brasil. Como você recebeu a notícia de que uma exposição sobre o Titanic estava vindo para o Brasil pela 1ª vez? Quais emoções e reações lhe tomaram no momento que você soube desta alegria?
Rodrigo Piller – Soube sobre a exposição em fevereiro de 2011, vários meses antes da vinda, que só aconteceu em minha cidade no final de outubro. Fiquei muito intrigado, pois não imaginava que algo assim poderia vir para o Brasil. Considerava que era longe demais para que uma exposição itinerante pudesse se deslocar com peças tão históricas e tão frágeis. Sem dizer que o itinerário prometia uma parada em minha cidade, ou seja, o Titanic estaria no “quintal de minha casa” dentro de poucos meses.
RMS Lucas RubioE na ida pra exposição, você estava ansioso? E o que você esperava ver por lá?
Rodrigo Piller – Ao ir para a exposição eu vivi um misto de apreensão, curiosidade e emoção. Minha expectativa foi de poder encontrar a história cara a cara, finalmente eliminar o sentimento de que a história do Titanic foi algo tão distante e tão impessoal.
 
RMS Lucas RubioPor meio de vídeos e fotos, nós que não fomos a exposição podemos ter um pouco da noção da dimensão da exposição. Na entrada, como era o ambiente e como os visitantes era direcionados? E como era receber seu bilhete de passageiro, como se você realmente estivesse embarcando no “navio dos sonhos”?
Rodrigo Piller –  Ao chegar na exposição, que foi instalada em um pavilhão anexo ao Park Shopping Barigui (CTBA), havia uma bilheteria e uma catraca de entrada com dois atendentes, que nos recepcionaram entregando os dois cartões de embarque e esclarecendo a finalidade e conteúdo dos cartões. Ao final da exposição teríamos a oportunidade de saber qual foi o destino final da pessoa descrita em nosso bilhete, e faríamos isto em um enorme painel memorial com todos os nomes dos ocupantes do Titanic naquela viagem. Neste painel estavam listados os passageiros da 1ª, 2ª e 3ª classes e de todos os tripulantes, todos separados entre os que sobreviveram e os que pereceram.A sensação de entrar na exposição foi de estar indo em para dentro da história, um sentimento de profunda reflexão se abateu naquele momento.
Cartão de embarque entregue na Exposição Titanic no Brasil Cartão de embarque entregue na entrada da Exposição
RMS Lucas RubioE na parte onde o visitante pode ver de perto ítens pessoais dos passageiros e da tripulação, você se identificou com algum, se comoveu ou reconheceu alguns deles?
Rodrigo Piller – Os itens que mais me tocaram foram os de uso pessoal. E dois destes itens eu guardei na memória: O primeiro deles foi um pequeno bibelô de louça que pertenceu a uma passageira que o recebeu de presente de sua mãe. Esta era uma peça muito simples, e me fez pensar em o quanto este enfeite seria insignificante caso não estivesse diretamente relacionado à uma tragédia de tamanha dimensão. Se dentro da vitrine ali em nossa frente aquele objeto valia muitos milhares... Caso não fizesse parte do Titanic valeria seguramente apenas alguns reais numa loja qualquer. Este tipo de comparação te faz refletir sobre o que é o destino.
O segundo objeto era uma toalha de banho quase intacta, que me surpreendeu muito. Era uma peça surpreendentemente preservada tendo em vista a enorme fragilidade e às tantas décadas perdida em meios aos escombros do Titanic há quase 4.000 m de profundidade. O que me fez refletir foi o nome do seu proprietário bordado em um dos cantos da peça. Pensei no amor de uma mãe (provavelmente) ao bordar o nome de seu filho naquela toalha, ela jamais imaginaria que ele partiria naquela viagem que se tornou fatal.
RMS Lucas RubioDurante a exposição o visitante pode visualizar várias réplicas de lugares do navio e cabines das tão antagônicas classes sociais do navio. Como você pode descrever estes momentos em que você pôde ver em tempo real partes do navio recriadas, ali bem na sua frente? Você conseguiu sentir um pouco da essência da vida de diversas pessoas que usaram aqueles lugares, há 100 anos atrás?
Rodrigo Piller – Os locais recriados eram uma suíte da 1ª classe, um corredor de passagem da 3ª classe, uma cabine da 3ª classe, uma porta à prova d’água e uma pequena secção da área das caldeiras. Nenhuma destas recriações era fiel nos detalhes, inclusive deixavam bastante a desejar se comparadas com as fotografias de época. No entanto estas reproduções eram muito belas e importantes, pois contribuíram muito na adição do sentimento histórico despertado no visitante.
 
RMS Lucas RubioFicamos sabendo que tem um momento da exposição em que o visitante pode tocar em uma parte do casco. Isso só de pensar já é muito emocionante. E neste momento, como foi pra você tocar em uma parte do lendário navio, enfim, como foi tocar na história viva?
Rodrigo Piller – Sim, em um dos corredores de passagem havia um pequeno fragmento do casco, com cerca de 45 cm de comprimento, com alguns rebites ainda pesos à peça. Tocar neste fragmento novamente me fez pensar no quão insignificante seria esta peça de aço caso ela fosse encontrada em um local qualquer, pois o valor que se dá a ela é unicamente devido à tragédia na qual se insere.
Ao analisar o fragmento de aço, que estava revestido com uma fina camada de cera, confirmei o que li tantas vezes: o casco do Titanic tinha espessura de 2,5 cm, e realmente tinha.
O fragmento se apresentava como se fora “rasgado” do casco, e esta aparência rasgada é uma viva testemunha das brutais forças ocorridas durante a quebra do Titanic, que fez com que o aço de 2,5 cm de espessura se rasgasse como uma folha de papel.
 
RMS Lucas Rubio – Em dado momento da exposição, o visitante pode chegar a uma sala que retrata o momento da colisão do navio com o iceberg. Como foi este momento pra você, e como foi poder tocar na réplica do iceberg e sentir o frio que estava? Deu pra sentir o clima pesado que se formou após o navio estar entregue à tamanho perigo?
Rodrigo Piller – A sala que recontava o momento em que o navio colidiu com o iceberg foi, sem dúvida, um dos momentos mais obscuros e assombrosos da exposição. A iluminação ambiente, como penumbra, associada a um profundo som que fazia lembrar um contínuo sopro de um forte vento somado a um trovão constante, causou em mim um sentimento muito forte.
No meio desta sala estava disposto dentro de uma grande vitrine, uma base de bronze de um dos timões do Titanic. Apesar de que esta peça não pertencia à ponte de comando principal, causou muita reflexão ao olhar em seu topo e reconhecer nitidamente gravado em baixo relevo as palavras abreviadas “PORT” e “STARB” (bombordo e estibordo), e isto trazia à mente o esforço na tentativa de desviar o Titanic na iminência da colisão com o iceberg.
O grande iceberg, reproduzido graças a um enorme aparato de refrigeração, era apenas uma peça alegórica, no entanto ao tocá-lo foi inevitável pensar na noite escura e gélida que aquelas pessoas enfrentaram em 15 de abril. As muitas marcas de mãos deixadas no gelo derretido mostravam que várias pessoas já haviam passado por ali.
 
RMS Lucas Rubio Depois deste momento, como é que as coisas são passadas aos visitantes e como são os momentos finais da visita?
Rodrigo Piller – A finalização da exposição se dava ao procurar no painel memorial o nome do passageiro que está no bilhete entregue na entrada. A procura de “meu passageiro”, Michell Navratil, revelou o que eu já sabia: ele pereceu no naufrágio. E este passageiro da segunda classe é detentor de uma das histórias mais tocantes, pois salvou seu dois filhos. No entanto não pôde salvar a si próprio.
Na “última curva” das salas da exposição há um simples painel com a fotografia de Millvina Dean, a última passageira do Titanic a falecer, em maio de 2009. Neste painel estava descrito que a mostra era dedicada à sua memória, e isto me tocou muito, foi o momento em que realmente me emocionei, pois acompanhei virtualmente toda a trajetória final de Millvina até o dia em que ela faleceu.
Ela foi uma mulher simples e forte, com um coração tão leve e bondoso que nem mesmo a tragédia (onde perdeu o pai, e da qual só soube aos nove anos de idade) foi capaz de convertê-la em uma alma amargurada, muito pelo contrário, ela concedeu dezenas de entrevistas, sempre com um olhar disposto e um coração tranqüilo. Tenho certeza que ela repousou em paz, e seu falecimento em 2009 fechou um capítulo importante na história do Titanic.
Rodrigo Piller na Exposição do Titanic Rodrigo Piller na Exposição do Titanic que visitou o Brasil no ano de 2011
 
RMS Lucas RubioBem no final da exposição, o visitante pode ter acesso a uma loja com vários artigos de coleção e material de pesquisa. E você, o que comprou por lá? O que achou?
Rodrigo Piller –A loja de suvenirs veio ao Brasil com um só estoque fixo, e como esta era a última parada, as peças eram muito poucas e pouco variadas. Acabei comprando duas réplicas do jornal “The New York Times” e o “New York American”, ambos com a cobertura da tragédia nos dias de abril de 1912.
Adquiri também um livro de apresentação dos artefatos presentes na exposição, uma réplica de um artefato de cerâmica e uma réplica de um prato com o padrão encontrado na terceira classe do Titanic.
Também adquiri um pequeno fragmento de carvão regatado dos escombros, que é apresentado dentro de uma pequena caixa de acrílico transparente. Esta lembrança autêntica é a única peça verídica do Titanic judicialmente autorizada para venda, visto que nenhum dos artefatos do Titanic pode ser comercializado como determina uma decisão judicial.
 
RMS Lucas RubioNa comunidade do Orkut “Titanic – Exposição Brasil”, várias pessoas se queixaram de algumas coisas da exposição, como por exemplo: má iluminação, muito texto pra leitura e etc. Você apontaria algo negativo no decorrer da exposição? Acha que alguma coisa poderia ter sido melhor?
Rodrigo Piller –   Entrei na exposição totalmente despido do olhar de quem já leu bastante sobre o caso, preferi encarar tudo como se fosse a primeira vez em que estava em contato com a história, por isto posso opinar sobre o “bom e o ruim”.
O lado positivo da organização da exposição é o caprichado modo e a beleza de toda a organização e disposição dos objetos, que ao meu ver estavam em alto padrão de clareza e de muito bom gosto.
Sobre a iluminação também não tive absolutamente nada a queixar, a disposição era clara onde deveria ser clara e mais soturna onde necessitava ser soturna, e isto contribuiu imensamente para a imersão emotiva e histórica necessária, sem impedir em nada a interação e a leitura. Quem se queixou sobre a iluminação não deve ter qualquer hábito de visitar exposições históricas.
O que realmente fez extrema falta foi a disposição de guias palestrantes, pois a grande maioria do público (assim como eu) quer conversar e, saber de detalhes sobre a exposição, e isto faria toda a diferença para o público.
A história dos objetos e do Titanic estava apresentada de modo muito claro, no entanto a disposição de pessoas para fornecer esclarecimentos (ou pequenas palestras) seria fantástica.
Havia também os pontos históricos falhos, pois na maior parte das fotografias e nos vídeos, as legendas traziam informações incorretas: na grande maioria dos casos cometendo os conhecidos erros de identificar aspectos do RMS Olympic como sendo do Titanic. Mas, como já se sabe, isto é mais do que recorrente o tempo todo e em todo lugar. No entanto só mesmo quem se debruça sobre a história do Titanic com atenção deverá ter notado estas muitas gafes.
 
RMS Lucas RubioVocê é um grande conhecedor da história do navio. Então acreditamos que muitas informações que haviam por lá, já eram de seu conhecimento. Houve algum momento em que você se surpreendeu? E qual foi a bagagem de aprendizado, moral e emocional que você levou de lá?
Rodrigo Piller – A surpresa para mim foi poder finalmente compreender as formas, as cores e as dimensões das coisas sobre as quais tanto leio, me aperceber da realidade dimensional de tudo isto. Um dos pontos mais surpreendentes foi ver de muito perto a preservação espetacular dos artefatos de tecido, pois haviam roupas que estavam praticamente intactas.
Uma das peças que mais me encantou foi um dos lustres de bronze da Sala de Fumantes da 1ª classe. Eu sempre gostei muito do design e da história deste ambiente do Titanic e já sabia que este lustre fora resgatado, mas vê-lo de perto com um brilho dourado surpreendente, apesar de estar muito contorcido, me deixou realmente fascinado pelo trabalho de arte nele contido.
Mas momentos como estes foram incontáveis durante meu trajeto, alguns de profundo sentimento humano e pessoal, outros de admiração pela curiosidade e beleza de algumas da peças.
 
RMS Lucas RubioBom Rodrigo, gostaria de te dizer que foi uma honra incontável ter você aqui hoje contando sobre sua experiência na Exposição do Titanic aqui no Brasil. Gostaria também de te agradecer mais uma vez pela atenção dada à nós e pela gentileza de ter aceitado este entrevista! Esperamos nos encontrar aqui mais vezes, e trocar ideias sempre. Se você quiser deixar um recado pra quem nos acompanhou neste entrevista e para os fãs deste navio encantador, este é o seu momento:
Rodrigo Piller – Quero deixar apenas um registro que considero muito importante aos amigos curiosos e aos admiradores da história do Titanic:
Todos somos livres para direcionar a atenção para um determinado aspecto relacionado ao Titanic, seja história real, filmes, arte, ou afins...
Mas considero de vital e indispensável importância de que todo aquele que queira estar mais próximo da história, tenha plena consciência de que o Titanic só é reconhecido hoje devido a uma tragédia. E esta tragédia não se deu sem deixar vítimas, as 1.500 almas sacrificadas na madrugada de 15 de abril de 1912.
Portanto é de suma importância reconhecer, respeitar e não obscurecer jamais a memória destas pessoas diretamente afetadas pela tragédia.
Admirar algo é importante, mas compreender e respeitar é indispensável. Só se pode admitir respeito histórico sobre qualquer caso, a partir do momento em que se tenha plena e clara consciência das consequências primárias de um fato, que no caso do Titanic não é um fim de um navio (um objeto substituível), mas sim a perca de 1.500 vidas, as quais jamais poderão ser repostas e clamam pelo devido RESPEITO.
A história do Titanic não se encerra apenas no navio, na tragédia, nas vítimas ou nos filmes. É a soma de tudo isto que torna este navio tão amado e imortal, fazendo com que ainda hoje, em 2012, já com mais de 100 anos de início, este navio ainda navegue à toda força dentro da cultura mundial e no coração daqueles que por ele se encantaram.... Assim como nós, os brasileiros.
Ser um admirador curioso é fantástico, mas respeitar a história é imprescindível.
Por fim agradeço ao amigo Lucas, foi um prazer dividir um pouco do que senti na visita a esta histórica exposição e um pouco de minha admiração e respeito por toda a história e imenso legado cultural deixado pelo Titanic.
Links interessantes relacionados a entrevista:
  • “Titanic Artefatos: uma história em cada peça” – Confira o post do RMS Lucas Rubio que conta um pouco sobre vários ítens recuperados do fundo do mar e que estavam em exibição na Exposição Titanic aqui no Brasil. Acesse AQUI.
  • “Expedition Titanic” – Conheça o site da empresa RMS Titanic Inc. Viva uma verdadeira viagem ao fundo do oceano, onde o Titanic repousa. Com muitas fotos, informações e vídeos, com certeza este se torna um site muito interessante de se visitar. Acesse AQUI.

Agradecimentos especiais pelas imagens desta matéria:
  • Victor Vila e Rodrigo Piller


 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Recontruir o Titanic realmente vale a pena?

Parece profecia. 100 anos depois da tragédia do Titanic, um empresário, que até então ninguém conhecia, aparece com um projeto para se construir um novo Titanic. Mais moderno e seguro do que nunca, este Titanic já está sendo chamado de “inafundável”, pelo menos foi o que a mídia disse. Mas se levantarmos algumas questões no ar, nos depararemos com a pergunta: é realmente importante e interessante se contruir um novo Titanic?
Estive conversando com vários amigos, o Sergio Claudiano, o Victor Vila, a Laísa Raupp e o Daniel Capella, por exemplo, cada um com seu ponto de vista sobre o assunto, e vi que este assunto ainda vai gerar muitas e muitas páginas de discussões e ainda dará muito o que falar…
O real RMS Titanic afundou há exatos 100 anos atrás e levou consigo 1.500 pessoas. Isso não é novidade pra ninguém. Mas isso nos leva a pensar que milhares de famílias sofreram na época e se contruir um novo Titanic seria quase que uma falta de respeito e mais uma falta do que fazer deste empresário. A própria Millvina Dean já expressou que não gostava de filmes referentes ao navio e dizia que se uma pessoa visse da perspectiva dela e fosse uma sobrevivente, entenderia como é triste e doloroso ver o navio que matou seu pai, sendo representado na tela dos cinemas, imagine agora o navio recriado. Não há mais sobreviventes do Titanic vivos, mas há seus descedentes e familiares que sentiriam a dor da perda de seus ancestrais na tragédia do navio. Então, torna-se desnecessário se contruir um Titanic II. Eu mesmo não consigo aceitar essa ideia de ter outro Titanic navegando por aí.
Uma outra questão muito interessante a se levantar é a questão do projeto e do nome do navio. Conversei sobre isso com o Daniel Capella, e ele nos apresenta algumas ideias que são, no mínimo, muito interessantes de serem analisadas. Na época o RMS Titanic era uma propriedade da empresa britânica de navegação White Star Line. A White Star Line, mais tarde, foi absolvida pela sua arquirrival Cunard Line, devido a uma série de fatores que levaram a WSL ao declínio.
Ainda hoje, a Cunard Line existe e é muito conhecida por ser proprietária dos luxuosos cruzeiros Queen Mary 2, Queen Elizabeth e Queen Victoria. Então, se a Cunard Line ainda existe e ela adquiriu a White Star, a Cunard é a detentora dos direitos sobre o nome e o designer do Titanic. Na época em que o Titanic foi contruído ra a época da constante guerra entre as empresas de navegação para construir o melhor navio, uma verdadeira corrida armamentista. Qualquer ideia do adversário para seu uso próprio poderia ser roubada, então com certeza deveria haver leis sobre o roubo de ideias no designer, nome e tudo mais em um navio. As companhias atualmente registram como trade mark o nome de seus navios. Naquela época isso já existia. Esse projeto, se sem autorização é um verdadeiro plágio, e a Cunard poderia lutar na justiça contra isso, apesar de ainda não ter se manifestado sobre o caso.
Cunard Line - tecnicamente ainda  a detentora dos direitos sobre o Titanic
Então o Titanic II, seria um plágio, seria uma forma de desconsideração com as vítimas de um Titanic e ainda acarretaria um próximo aspecto a ser analisado. Este Titanic II pode acabar ofuscando a história do 1º Titanic, pois ele não está com uma missão de recriar perfeitamente o navio, ele será uma versão moderna do Titanic. Então o RMS Titanic corre sério perigo de afundar na memória coletiva. Desde 1912 se propõe contruir um novo Titanic, mas desta vez, as coisas realmente parecem sérias.
Além de tudo isso, temos outras duas questões a serem pensadas. Um delas é que o nome, a história e a tragédia do Titanic estará sendo usada para levantar dinheiro para as mãos de um empresário. Ou seja, a morte de 1.500 pessoas estaria sendo utilizada para o lucro e a vantagem monetária. A outra é que este novo Titanic está sendo usado como um tipo de arma política, uma vez que quem irá construí-lo é uma empresa estatal da China comunista, e o navio fará rotas entre os Estados Unidos e a Europa. Então o Titanic II seria uma estratégia política além de uma grande fonte de lucratividade.
Mas quais seriam os aspectos positivos dessa história toda? Muitos, claro. Para qualquer fã do navio, só de pensar em poder embarcar em um Titanic já é um sonho. E pode ocorrer o contrário do que falamos anteriormente: com esse Titanic II, a história do 1º Titanic pode se tornar mais popular do que já é, e corre o risco de ficar um bom tempo nos noticiários e na memória coletiva.
Outro fator positivo é que a contrução de um novo Titanic poderá facilitar o estudo de alguns aspectos do navio. Muitos estudiosos poderiam se utilizar dos espaços do navio, e sua forma, para entenderem melhor como ocorreu os momentos finais de seu antecessor.
E você? O que tem a dizer? O que você pensa sobre o assunto? Use o espaço dos comentários para expressar sua opinião…

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